Timão e os rivais: relações estreitas que tornam o clube ainda maior
O que seria do Corinthians sem Palmeiras, São Paulo e Santos? História dos adversários se confunde com a do clube do Parque São Jorge
Nenhum time é grande se não tiver rivais à altura. Pois na falta de um, o Corinthians tem logo três. Contra Palmeiras, São Paulo e Santos, o Timão colecionou vitórias e derrotas que, de uma forma ou outra, engrandeceram ainda mais a rica história do clube. O "maior" rival depende da época. Nos anos 90, o Verdão era o principal adversário. No começo da década, Tricolor e Peixe tiveram duelos marcantes com o time do Parque São Jorge. Em comum, os três têm marca registrada no centenário corintiano.
com rival (Foto: Marcos Ribolli/Globoesporte.com)
Os primeiros rivais do Corinthians eram adversários não só na bola, mas também na ideologia. O Timão nasceu em 1910 para se opor às elites que dominavam o futebol paulista e logo alimentou as primeiras "inimizades". Americano e Germânia eram os adversários mais frequentes do Timão nos primeiros anos - e também fregueses. O Alvinegro perdeu apenas duas vezes na história, uma para cada.
Depois, quando as duas ligas paulistas se fundiram, Paulistano e A.A das Palmeiras (não é o Verdão) se tornaram os adversários a serem batidos. E o Timão, mais uma vez, não fugiu da responsabilidade. Contra o Paulistano, o retrospecto é equilibrado: 8 vitórias, 2 empates e 9 derrotas em 19 partidas. Diante da A.A das Palmeiras, a vantagem é esmagadora: 16 triunfos, um empate e só uma derrota, em 1918.
No fim dos anos 10, Palmeiras (ainda como Palestra Itália) e Santos começaram a fazer os primeiros jogos contra o Timão. O São Paulo veio bem mais tarde. O clube tricolor, ainda como São Paulo da Floresta, enfrentou o Corinthians pela primeira vez em 1930.
Derrotas doloridas e alegrias marcantes no Dérbi
A relação do Corinthians com o Palmeiras é recheada de histórias dramáticas. Considerado historicamente o maior rival do Timão, o Alviverde esteve presente em alguns dos momentos mais marcantes dos 100 anos do clube. O primeiro Dérbi realmente decisivo foi em 1954, quando o time treinado por Oswaldo Brandão foi campeão do IV Centenário de São Paulo depois de um empate por 1 a 1 com o Verdão.
Em 1974, o Timão sofreria uma decepção. Na final do Paulistão daquele ano, o Palmeiras frustrou os planos de Rivellino e companhia de tirar o clube da fila sem títulos que já durava 20 anos. Um gol solitário de Ronaldo deu a vitória por 1 a 0 aos palmeirenses. Rivellino, muito pressionado depois da derrota, acabou saindo do Corinthians rumo ao Fluminense.
Nos anos 90, a rivalidade ficou ainda mais acirrada. Entre 93 e 94, o Timão não deu sorte e perdeu três decisões para o Palmeiras: Paulista e Rio-São Paulo de 93, mais o Brasileiro de 94. Mas o troco foi saboroso para o torcedor corintiano. Em 1995, na final do Paulista, a equipe alvinegra venceu na prorrogação com um golaço de Elivélton e levantou a taça.
Corinthians e Palmeiras virou clássico continental em 1999 e 2000, dois momentos de muita dor para a equipe do Parque São Jorge. Em 99, os times se cruzaram nas quartas-de-final da Taça Libertadores. Vitória palmeirense por 2 a 0 no primeiro jogo, e corintiana pelo mesmo placar no segundo. A decisão foi nos pênaltis e Marcos defendeu as cobranças de Vampeta e Dinei.
mas respeita rival (Foto: Agência Estado)
Para amenizar, o Timão venceu o mesmo rival no Campeonato Paulista, em jogos cercados de polêmica. O Verdão tinha sido campeão da Libertadores dias antes da segunda partida da decisão. Mordidos, os jogadores corintianos abriram 2 a 0, sofreram o empate, mas ficaram com o título estadual em um jogo que não acabou. Provocador, o atacante Edílson resolveu fazer embaixadinhas no meio de campo e foi o estopim de uma briga generalizada no Morumbi.
No ano seguinte, mais rivalidade. Desta vez, em duelos ainda mais dramáticos. De novo pela Libertadores, Corinthians e Palmeiras fizeram uma das semifinais da competição. No papel, o Alvinegro era muito superior e mantinha a base bicampeã brasileira em 98 e 99, e do Mundial de Clubes de 2000.
No primeiro jogo, 4 a 3 Timão. No segundo, 3 a 2 Verdão. Mais uma vez, pênaltis. Mais uma vez, Marcos no caminho corintiano. O camisa 12 pegou a cobrança de Marcelinho Carioca e foi o responsável por, talvez, o maior trauma da história do clube. Apesar disso, o torcedor corintiano reconhece o goleiro como um dos jogadores que mais respeita a história centenária. E Marcos faz questão de mostrar a importância que dá ao maior rival.
- Ter o Corinthians como rival é o que torna o Palmeiras grande. Ter rivais de peso e eternos faz com que a torcida se apaixone pelo time e pelo futebol. Já ganhei um monte e já perdi um monte para eles também. Sempre respeitei o Corinthians porque para você estar em um time grande tem de ter concorrentes do mesmo nível. É uma equipe que sempre respeitei muito - afirmou o goleiro.
Nos últimos anos, a relação entre Palmeiras e Corinthians é mais do que amistosa. As diretorias têm feito ações conjuntas para promover o clássico desde o ano passado e utilizam um logo especial nas camisas sempre que se enfrentam. Ronaldo marcou seu primeiro gol pelo Timão, de cabeça, justamente no primeiro jogo planejado em conjunto, em 8 de março de 2009.
Animosidade recente com o Tricolor
Muitos corintianos já consideram o São Paulo como o maior rival, em vez do Palmeiras. Isso porque a rivalidade cresceu demais na última década, com decisões seguidas, tabus e animosidades dentro e fora de campo. O capítulo mais recente do clássico Majestoso foi neste domingo, com vitória do Timão por 3 a 0, no Pacaembu.
decisões de Paulista (Foto: Agência Estado)
Antes desta década, os principais encontros entre Corinthians e São Paulo foram em Campeonatos Paulistas. Em 1982 e 83, o Timão conquistou o bi em cima do Tricolor. O atacante Casagrande, protagonista das duas finais, relembra a importância do rival na história corintiana. Em 84, ele atuou pelo clube do Morumbi.
- O São Paulo sempre foi um grande rival para o Corinthians, na época da Democracia tinha um grande time. Pelas decisões recentes, o duelo ganhou muito mais importância - analisa Casagrande.
Do fim da década de 90 até hoje, os clubes se envolveram em vários jogos eliminatórios - com vantagem para o Corinthians: desde a final do Paulista de 98, foram oito mata-matas. O Timão venceu seis deles. Em cima do São Paulo, o time também conquistou seu primeiro título em nível nacional. No Brasileiro de 1990, a equipe comandada por Neto bateu o Tricolor duas vezes por 1 a 0. No último jogo, a lembrança mais marcante é a do gol de Tupãzinho, batendo Zetti em um gol de carrinho.
Mata-matas desde 98 | |
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Vantagem do Timão | Vantagem do Tricolor |
Paulista (semifinais de 99 e 2009, final de 2003); Rio-São Paulo (final de 2002); Brasileiro (semifinal de 99); Copa do Brasil (semifinal de 2002) | Paulista (final em 98 e semifinal em 2000) |
Outra lembrança boa para o corintiano veio em 1999. Nas semifinais do Brasileiro daquele ano, o Timão bateu o rival em grande estilo. O ponto alto ocorreu no primeiro jogo, quando Dida defendeu dois pênaltis batidos por Raí, ídolo tricolor.
Hoje, o clássico é marcado por tabus. De 2003 a 2007, o Corinthians ficou 12 jogos sem vencer. Desde um gol solitário de Betão, em 7 de outubro de 2007, o time inverteu a situação, que persiste até hoje. De lá para cá, já são dez jogos sem derrotas corintianas.
Dentro e fora de campo, as provocações têm pautado o Majestoso. Tudo começou com Vampeta, que resolveu inventar um apelido nada carinhoso para os são-paulinos. Anos depois, em tempos de supremacia tricolor no clássico, o meia Souza resolveu rebater as brincadeiras e passou a ser o grande alvo dos corintianos.
Entre as diretorias, a relação também não é das melhores. Acostumado a atuar no Morumbi, o Timão rompeu laços no ano passado, quando o presidente Juvenal Juvêncio passou a exigir que os visitantes só tivessem direito a 10% da cota de ingressos nos clássicos. Antes, um acordo de cavalheiros garantia estádio dividido para as duas equipes. Desde então, o presidente Andrés Sanches decretou que o Corinthians só jogaria lá quando fosse obrigado.
Pelé, Robinho, Ricardinho, Tevez...
Corinthians e Santos fazem o clássico mais antigo do estado de São Paulo: o primeiro jogo foi em 22 de junho de 1913, um ano após a fundação do Peixe, com vitória corintiana por 6 a 3. Desde então, os clubes alvinegros promoveram jogos recheados de craques - inclusive o maior deles, Pelé.
"pescou" Peixe (Foto:Marcos Bezerra/Futura Press )
O Timão sofreu muito nos pés do Rei do Futebol, que fez 50 gols em 48 partidas contra o rival - um deles com a camisa da Seleção Brasileira. Na fase de Pelé, o time ficou 11 anos sem vencer o Santos - de 1957 a 68. O problema era tão grande que o dia da quebra do tabu teve festa digna de título. Em 6 de março de 68, o Corinthians fez 2 a 0 com gols de Flávio e Paulo Borges, acabando com a sequência negativa.
Em compensação, outros craques deram muitas alegrias ao Corinthians diante do rival. Em 2001, um gol de Ricardinho no último minuto deu a classificação à final do Campeonato Paulista e, de quebra, deixou o Santos por mais um ano na fila de títulos.
Coincidência ou não, a fila do Peixe acabou no ano seguinte justamente em cima do Corinthians. Comandado por Robinho, o time da Vila Belmiro bateu o Timão na final do Campeonato Brasileiro e tirou a chance de um ano perfeito corintiano. No primeiro semestre de 2002, as taças do Rio-São Paulo e da Copa do Brasil já tinham ido para o Parque São Jorge.
Em 2005, outro astro brilhou no clássico: o argentino Carlitos Tevez. Seu principal jogo contra o Peixe foi a goleada por 7 a 1, na qual fez três gols e dançou a tradicional cumbia, para alegria da torcida que lotou o Pacaembu naquele 6 de novembro.
Hoje, os clubes têm relação tranquila fora de campo, mas nem tanto dentro dele. Desde a decisão do Paulista do ano passado - vencido pelo Corinthians - o atacante Neymar tem sido alvo de polêmicas. Em 2009, levou uma dura de Cristian e acabou tendo pouco destaque. Neste ano, mais malandro, o garoto fez bela exibição pelo Paulistão e deu um chapéu em Chicão quando a bola não estava em jogo.
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