No 1º clássico como Palmeiras, Corinthians carimba faixa do rival
01 de agosto de 2010 • 08h16
Palmeiras busca uma importante vitória no clássico diante do Corinthians
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra
Mal sabia o público presente no Pacaembu naquela tarde de 4 de outubro de 1942 que estava diante de um momento histórico. Pela primeira vez, o Corinthians entrava em campo para encarar aquele que viria a ser seu maior rival em todos os tempos: o Palmeiras.
A rivalidade já vinha desde o nascimento do Palestra Itália, clube antecessor da atual agremiação palmeirense. O time alvinegro possuía então 12 títulos paulistas, contra oito dos rivais da colônia italiana. Mas a história reservaria um futuro diferente para o clube alviverde, que seria forçado a mudar de nome.
O surgimento do Palmeiras:
O mundo vivia o auge da Segunda Grande Guerra Mundial e estava em alerta. Neste ano de 42, os alemães e seus pares partiram em uma operação militar contra as forças russas pela posse de Stalingrado, às margens do rio Volga.
A batalha, que se iniciou em julho, foi um dos principais acontecimentos da Guerra. Foi o ponto de virada na frente leste, marcando o limite da expansão da Alemanha no território soviético. A mais sangrenta batalha de toda a história ocorria naquele momento.
Enquanto isso, o Brasil vivia na espreita. Embora vivesse em um regime ditatorial simpático ao modelo fascista, o Estado Novo Getulista, o País acabou participando da batalha junto aos Aliados. O Brasil se aproximava cada vez mais do conflito bélico contra o Eixo e, sob pressão americana, rompeu relações diplomáticas e comerciais com Alemanha, Itália e Japão.
"O Palmeiras, por ser um clube de origem italiana e mesmo que fundado sobre as regras brasileiras, sofreu uma perseguição como todos as outras agremiações que tinham descendência das respectivas colônias do Eixo, e aquele clima de guerra foi trazido para dentro do seio esportivo", explicou Fernando Galuppo, historiador do Palmeiras, em entrevista ao Terra.
"Por isso, criou-se uma mobilização para destruir o patrimônio do Palestra. Em 1938, por uma nova lei imposta pelo governo Vargas, todos os bens provenientes de descendências dessas três origens poderiam ser confiscados por brasileiros como reparação de guerra", concluiu o historiador.
A obrigação da mudança afetou diversos clubes do Estado paulista. O Germânia virou Pinheiros; o Hespanha, de Santos, virou Jabaquara; e o Palestra Itália deu vida ao Palestra de São Paulo. Não durou muito, pois em seguida ganharia sua forma final o principal time alviverde do País: o Palmeiras.
Nasce um campeão:
"Houve uma mobilização forte de um clube paulista (o próprio São Paulo) e pela figura de dois homens (Geraldo de Almeida, jornalista, e Paulo Machado de Carvalho, diretor do São Paulo e diretor de rádio, que era o principal veículo de mídia na época), que propagandearam uma ideia de que o palestrino era o time da colônia italiana no Brasil e que todos os seus torcedores eram fascistas. Criou-se esse rótulo, que motivou essa mudança de nome", disse Galluppo.
"O primeiro jogo foi justamente contra o São Paulo, no dia 20 de setembro de 1942, e deu o título do Campeonato Paulista ao novo Palmeiras", lembrou o historiador. De fato, em seu primeiro embate oficial com o novo nome, o Palmeiras jogou pelo troféu, já que fazia campanha memorável no torneio estadual e possuia um de seus melhores times.
Oberdan, Zezé Procópio, Echevrrieta, Del Nero e Lima eram alguns dos jogadores que se destacavam no torneio estadual. A partida que decidiu o título acabou com vitória alviverde por 3 a 1 sobre o São Paulo. O time palmeirense nascia campeão em seu primeiro confronto. O problema era que a equipe tinha ainda mais um jogo na tabela da competição, justamente contra o Corinthians, no Pacaembu.
Corinthians carimba a faixa:
No jogo da entrega das faixas, o Palmeiras tinha como incentivo vencer seu maior adversário no confronto que lhe restava e ainda confirmar o título invicto, já que não havia perdido nenhuma partida na competição. Nada como ser campeão com uma invencibilidade confirmada sobre o arquirrival. A festa estava programada, só esqueceram de avisar o Corinthians.
"O Palmeiras não foi campeão invicto justamente porque, no último jogo, o recém criado Palmeiras foi derrotado na partida das faixas pelo Corinthians", lamentou o historiador palmeirense. O troféu da equipe alviverde foi carimbado com três gols do time alvinegro, um de Hércules, outro de Milani e um de Begliomini, contra. O Corinthians vencia o primeiro clássico contra o ex-Palestra Itália e tirava a conquista invicta de seu arqui-inimigo.
"Como esse encontro teve um caráter mais festivo, com outro clima, uma semana depois do titulo, e o Corinthians saiu vencedor e o Palmeiras acabou não conseguindo a invencibilidade, havia até uma brincadeira na época, que disseram que era a ´sinfonia inacabada´, porque o Palmeiras foi campeão, mas não foi invicto. Mesmo assim, o importante era a conquista do título paulista, que foi concretizada", minimizou Fernando Galluppo. Nascia o mito de Corinthians x Palmeiras.
Confira a ficha do primeiro Corinthians x Palmeiras da história
Corinthians 3 x 1 Palmeiras
Data: 04/10/1942
Competição: Campeonato Paulista
Estádio: Pacaembu
Árbitro: Pausâneas Pinto da Rocha
Corinthians: Rato; Dedão e Chico Preto; Jango, Brandão e Dino; Jerônimo, Milani, Servílio, Eduardinho e Hércules
Palmeiras: Oberdan; Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Waldemar, Echevarrieta, Villadôniga e Lima.
Gols: Corinthians - 1º tempo - Hércules, aos 13min, Milani (pênalti) aos 23 e Begliomini (contra) aos 28.
Palmeiras - 1º tempo: Lima, aos 5min
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