Ninguém no Corinthians acredita que Ronaldo cumprirá seu contrato até o final. Ninguém… mas os corinthianos sim, os que dizem não estão com dor de cotovelo.
Ronaldo está perto de completar três meses sem jogar pelo Corinthians.
Sua última partida foi no dia 9 de maio, contra o Atlético Paranaense.
Maio.
Parou de atuar para se recondicionar fisicamente.
Linda expressão que Mano usou para emagrecer.
Estava tão gordo, tão pesado, que seus joelhos, tornozelos, coxas e panturrilhas o torturavam.
E as pequenas lesões surgiam em seguida.
Ronaldo parou e ninguém ligou.
Não acabou o mundo.
Depois do primeiro semestre de 2009 maravilhoso, ele cansou.
Se irritou com as longas concentrações em Itu, com as dores, com o regime espartano que deveria seguir.
Com a conquista da Copa do Brasil e a classificação antecipada para a Libertadores de 2010, ele relaxou.
Abriu mão até de uma possível vaga para a Seleção Brasileira.
Resolveu ter vida dupla.
Ser jogador e aproveitar um pouco os milhões de euros que possui e ser Ronaldo.
Ele foi a festas, reality shows, jantares, rodadas de pôquer.
Lógico que não suportou mais treinamentos intensivos.
Passou a engordar e enfraquecer como atleta de elite.
Quebrou a mão e a proveitou para fazer uma lipoaspiração.
De nada adiantou.
Tirou um pouco de gordura da barriga, mas e o fôlego?
Com os músculos mais flácidos do que deveriam, cadê o arranque para os dribles sensacionais que encantaram o mundo?
Sua queda foi vertiginosa.
Mesmo protegido pelos companheiros e por todos esquemas táticos que Mano Menezes pudesse inventar...
Ronaldo foi se tornando figura decorativa.
Andrés Sanchez fingia que não percebia.
O importante, como viria a se confirmar, era fechar o maior patrocínio da América Latina.
E ele precisava de Ronaldo.
Não precisava nem ser o atacante, bastava o símbolo.
Impossível não olhar para ele e relembrar o homem que foi três vezes melhor jogador do mundo.
Maior artilheiro da história das Copas.
Porta aberta para mundo, os patrocinadores aceitaram pagar o que Andrés queria.
Inteligente, Ronaldo pegou o seu enorme quinhão.
E tudo certo.
A desenfreada decadência logo o atingiu de frente.
Na madrugada, acompanhando o Carnaval no Rio de Janeiro encontrou Dunga.
Não chegaram a se falar, mas amigos comuns levaram a notícia que nem adiantaria sonhar com a Copa.
Ronaldo já estava gordo, mas sonhava que seu talento não seria desperdiçado.
O grupo de amigos que o cerca também o iludiu.
Esses "amigos" repetiam para ele que a seleção não iria ficar sem seu "presidente".
Para que se preocupar com peso, com treinos extenuantes que acabavam em fortes dores?
Tudo bem, "presidente", dá para maneirar?
Não deu.
Não veio a convocação, chegou a tristeza, a certeza do desperdício.
A forra viria na Libertadores da América.
Mostraria ao mundo que ainda era Ronaldo e daria o título mais importante da história para o Corinthians.
Enredo de filme infanto-juvenil.
O astro que consegue dar a última volta por cima.
Só que esqueceram de avisar os adversários, principalmente o seu clube de coração, o Flamengo.
Enorme e definitiva decepção para os corintianos.
Finalmente, o rei, ou melhor, o presidentes estava nu.
Mesmo os mais apaixonados viram Ronaldo ser uma mera sombra do que foi.
Tentava correr, mas não conseguia.
A barriga, indisfarçável.
A sua presença atrapalhava o time, fazia com que todos tivessem de correr por ele.
Resultado: Corinthians eliminado, no Pacaembu, diante de sua apaixonada torcida.
A aura de Ronaldo é tão intensa que ele foi poupado.
Ninguém quis bater, xingar.
Apenas houve a dolorida constatação de que o sonho havia acabado.
Ele estava longe de ser o enviado dos céus que daria a Libertadores para o Corinthians.
Ainda houve um teatro.
Caiu preparador físico, fisiologista.
Como se eles fossem o culpado pela gordura de Ronaldo.
E ele sumiu para se recondicionar.
Só que já não era mais manchete.
Ninguém mais estava assim tão interessado.
Foi como se todos percebessem ao mesmo tempo.
O momento havia passado.
Hoje só faltou soltarem rojão, a sirene soar no Parque São Jorge.
Ronaldo conseguiu treinar por uma semana inteira.
Adilson Batista faz o seu papel e procura comemorar, dizer que há chances dele atuar domingo.
O adversário é o Flamengo pelo Brasileiro.
A esperança de mais um retorno.
Mas as fotos são cruéis.
Mostram Ronaldo de camisa larga para tentar disfarçar a teimosa barriga.
O rosto está cheio demais.
Os músculos não conseguem se destacar nas pernas, como em todo atleta profissional.
Brincando com a bola ele continua mostrando o talento fora do comum.
Assim como Maradona...
Como Zico...
A volta aos gramados está ficando cada vez mais difícil.
Ronaldo tem contrato com o Corinthians até o final de 2011.
Diz cada vez menos que vai cumprir o que assinou.
Andrés Sanchez quer que ele fique.
Nem que seja para jogos de exibição.
Deseja mais dinheiro para o Corinthians.
Sonha com Ronaldo sendo o embaixador que vai buscar patrocínios para o sonhado estádio.
Não precisa nem jogar.
Basta ser quem é.
Mas se quiser, e puder, pode entrar de vez quando com o time.
Ainda vai marcar alguns gols.
Pênaltis são todos deles.
Mas o tempo de Ronaldo virar manchete apenas como jogador já passou.
Esperto, sabe usar tudo o que aparece para continuar sendo notícia.
Agora é o twitter.
Qualquer coisa que escreva ele sabe que milhões de pessoas lerão e repercutirão.
Como escrever que a ultrapassagem de Rubinho em Schumacher foi o gol mais bonito do final de semana.
Ronaldo é Ronaldo.
Tudo o que fizer ainda vai chamar a atenção.
Só que ele está cansado.
No ocaso da carreira.
Vai completar 34 anos no dia 22 de setembro.
Tem a vida pela frente.
Para aproveitar tudo o que tem direito.
O desejo de quem o viu surgir e encantar o mundo é um só.
Que ele tenha respeito por ele mesmo no final de carreira.
Não se torne uma caricatura.
Grandes jogadores que não queriam parar foram obrigados.
Quando zagueiros medíocres os anulavam porque tinham mais juventude, mais força física, arrancada.
Que Ronaldo e coragem de parar de maneira digna.
É só isso que seus fãs de verdade pedem.
Porque mesmo no Parque São Jorge ninguém acredita que ele chegará jogando até dezembro de 2011.
Ninguém...
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